Patrocinador admite que paga ao Palmeiras mais do que vale, e diz que compensa

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José Roberto Lamacchia é o homem que mais investe num clube de futebol no Brasil. O dono da Crefisa e da Faculdade das Américas (FAM) lutou contra o câncer, foi aos Estados Unidos em busca da cura e depois deu continuidade com alguns dos melhores médicos do Brasil. Após o tratamento, tomou decisões, entre elas a de colocar (muito) dinheiro no Palmeiras, seu clube de coração. São perto de R$ 100 milhões anuais em patrocínio, fora os “presentes”, como Vítor Hugo, Thiago Santos, Fabiano, Lucas Barrios, Dudu, Guerra e Borja, jogadores contratados graças aos elevados aportes extras feitos pelas duas de suas 13 empresas. Por intermédio de sua assessoria, ele respondeu às perguntas do blog.

Vale a pena investir em patrocínio no futebol?

José Roberto Lamacchia – Você conhecia a Crefisa antes de patrocinarmos o Palmeiras?

Não me lembro antes de ver a marca na camisa do clube. Possivelmente já havia visto, mas não fixou…

Lamacchia – E faço anúncios na (TV) Globo há anos. Mesmo assim muita gente só passou a conhecer mesmo a Crefisa depois que colocamos nossa marca na camisa do Palmeiras.

É um bom negócio então.

Lamacchia – Ótimo negócio. Não entendo como outras grandes empresas, como bancos e montadoras, não patrocinam os times do país. O retorno é excelente. Vale a pena patrocinar, no nosso caso, para a FAM mais ainda do que para a Crefisa. Muitos empresários e executivos têm desconfiança, por isso não investem em futebol, talvez por culpa de dirigentes que endividaram os principais clubes, criaram essa fama, isso é ruim. Mas eu digo sempre a eles que anunciem, porque é um excelente negócio, vale muito a pena. Posso dizer isso com toda certeza.

Alguns temem patrocinar um clube e despertar rejeição dos torcedores rivais. O que o senhor pensa disso?

Lamacchia – Bobagem. Isso não acontece com a Crefisa e com a FAM. Pelo contrário, muitos nos veem como quem está apoiando o futebol, ajudando um grande clube. Deveria haver mais empresas assim. Então nosso futebol seria melhor do que o da Europa. Você imagina um grande clube com apoio de grandes empresas, que tamanho teria?

Como resolveu patrocinar o Palmeiras?

Lamacchia – Eu tive câncer e me curei. Um dia tomava café da manhã num clube com a Leila (mulher de José Roberto Lamacchia, que com ele administra as empresas) e falava sobre o Palmeiras. Então ela me questionou: ‘Você gosta tanto do clube, mas o que faz por ele?’ Resolvi patrocinar, então.

Soube que quando ligou para o Palmeiras bateram o telefone…

Lamacchia – Duas vezes. Não conseguia falar com os dirigentes. Então fomos ao CT, lá um funcionário teve uma boa ideia e entrou em contato com o Francisco, do marketing. Quando falamos eu deixei claro que não tinha nada contra ele, mas que a conversa deveria ser de presidente para presidente. Fomos nos encontrar então com o Paulo Nobre, que estava na presidência, e acertamos por R$ 23 milhões anuais (o acordo foi anunciado em 22 de janeiro de 2015).


Qual a importância do seu patrocínio para o Palmeiras?

Lamacchia – O clube quase foi novamente rebaixado pouco antes, no final de 2014. Aí veio o Alexandre Mattos (diretor executivo de futebol) e ajudamos a trazer muitos jogadores. Então as coisas começaram a mudar no futebol do Palmeiras, que foi campeão da Copa do Brasil já naquele ano e do Campeonato Brasileiro em 2016.

Como é esse tipo de situação na qual o Palmeiras contrata novos jogadores com dinheiro extra dos patrocinadores?

Lamacchia – Pagamos a segunda metade do Dudu, um jogador que o clube poderia perder. Pagamos o Guerra, o Borja… O combinado é, se o jogador custou R$ 10 milhões, amanhã, caso o Palmeiras o venda por R$ 30 milhões, terá de me devolver os mesmos R$ 10 milhões, sem juros e correção monetária.

Provavelmente se um deles for vendido, o clube vai querer usar o dinheiro para fazer novas contratações…

Lamacchia – E eu sei bem disso. Não sou bobo, faço isso por que quero, faço isso pelo Palmeiras. Nesse momento sentaremos e analisaremos a situação.

O senhor paga pelos espaços no uniforme muito mais do que seria o valor de mercado. Ainda assim vale a pena?

Lamacchia – Muito. Vale muito a pena porque o retorno é ótimo. Você mesmo só gravou mesmo o nome da Crefisa depois que viu na camisa do Palmeiras, certo? E eu não sou um idiota, sei muito bem que estou pagando bem mais do que vale. Mas faço isso porque posso e quero. Da mesma maneira faço doações ao Graac (Grupo de Apoio ao Adolescente e a Criança com Câncer) e reformei dois andares do Hospital das Clínicas. Quis ajudar depois do que passei. E quero ajudar o Palmeiras, onde coloco dinheiro. E não retiro.

O senhor já socorreu o clube em situações específicas?

Lamacchia – Sim. Em uma delas o Palmeiras precisava fechar as contas e faltavam R$ 8 milhões. Sugeriram que colocássemos nossa marca nas meias dos jogadores por essa quantia. Ora, eu sei bem que aquele espaço não vale isso, mas fiz. Pelo Palmeiras, para o Palmeiras. A estrutura e o Centro de Excelência paguei a reforma e a construção. Depois houve um problema lá dentro e então parei, mas era um investimento de aproximadamente R$ 8 milhões e paguei uns R$ 6,5 milhões, depois só completaram o que faltava, a menor parte.

Quem merece elogios entre as pessoas com as quais conviveu nesse tempo de patrocínio ao clube?

Lamacchia – O Maurício Galiotti, ótimo dirigente, excelente. O Alexandre Mattos é o melhor no que faz. Acertou muito mais do que errou. O Lucas Barrios, num primeiro momento, foi muito importante na Copa do Brasil (o blog apurou que entre a contratação e salários o argentino naturalizado paraguaio custou ao patrocinador cerca de R$ 37 milhões). Mas o Mattos acertou em muitas coisas, foi lá na Colômbia e convenceu o Borja a não ir para a China, formou time forte, ganhamos a Copa do Brasil e o Brasileiro.

Por que a sua mulher, a Leila, fez aquela campanha para ser conselheira do Palmeiras?

Lamacchia – Ela queria tanto contribuir com o Palmeiras, que quis se tornar conselheira. E ela acha que pode colaborar. E eu sou associado desde 1955.

O senhor diz que não quer poder no Palmeiras, mas apenas ajudar o clube. A Leila deseja ser presidente?

Lamacchia – Como? Ela não tem tempo. A Leila toca as em nossas empresas, ele é uma excelente executiva, se for para a presidência do Palmeiras de que maneira iríamos cuidar de nossos negócios? E se um dia ela se tornasse presidente do Palmeiras ia acontecer uma revolução lá dentro. Cada fornecedor seria definido depois de uma concorrência, buscando o melhor preço, as melhores condições. Ela só trabalha assim. E clube de futebol tem muito negócio que envolve amizades, conhecimento.

Ela é mesmo vascaína como dizem?

Lamacchia – Nada, isso é uma mentira que inventaram.

Quando estava no Fluminense, a Unimed, era o patrocinador e também colocava jogadores lá, mas sempre quis participar das decisões do futebol…

Lamacchia – Mas nós não queremos decidir nada sobre isso. Sou torcedor, não entendo de tática, dessas coisas, quem tem de escolher os jogadores que serão contratados é o departamento de futebol, é o Alexandre Mattos.

Mas o futebol o tornou mais conhecido…

Lamacchia – Isso acontece. Hoje mesmo um pessoal de um banco veio ao meu escritório para uma reunião. Ficamos o tempo todo falando de futebol e o assunto da reunião nem foi lembrado. Sempre gostei de futebol. Antes de criar a Crefisa, fui repórter, foi a maneira que encontrei para ver os jogos, mas nem sempre me colocavam nos do Palmeiras.

O senhor se incomoda quando dizem que é o mecenas do Palmeiras?

Lamacchia – Não. Me incomoda quando dizem algo que não é verdade. A Crefisa passa por fiscalizações da Receita Federal, do governo, como qualquer outra empresa do setor. Não tenho dívidas, não faço dívidas. É tudo legalizado, sempre foi.

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