O sonho peruano é o pesadelo argentino: A Bombonera não bastou, só amplificou o drama da Albiceleste

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Era uma noite em que os argentinos tinham a ilusão de mudar o curso da história na base do grito. No ritmo dos cânticos e dos bumbos. A seleção escolheu a Bombonera e convocou os torcedores portenhos para conquistar uma vitória que seria fundamental à campanha nas Eliminatórias. Acabaram frustrando-se, todos. Porque o Peru também possuía a sua ambição de silenciar o mítico estádio. E teve muito mais sucesso em sua empreitada. A Albirroja se defendeu muito bem e contou com uma noite inspirada do goleiro Gallese, enquanto a Albiceleste esteve longe de ser a equipe que se esperava, agigantada pela multidão que botava pressão. Sem confiança, os argentinos tropeçaram mais uma vez. Tiveram que aceitar o empate por 0 a 0, que amplia o seu pesadelo em não se classificar à Copa do Mundo. Do outro lado, os peruanos seguem vivíssimos em seu sonho de retornar ao Mundial após 36 anos.

Jorge Sampaoli apostou em uma escalação pouco esperada, dentre os muitos testes que fez. Darío Benedetto foi o escolhido para servir como referência no ataque, enquanto Papu Gómez e Ángel Di María completaram a trinca de meias com Lionel Messi. Já do outro lado, Ricardo Gareca precisou lidar com alguns desfalques, mas vinha com um time bem compacto e capaz de incomodar nos contra-ataques, com Jefferson Farfán e Édison Flores nas pontas, além de Paolo Guerrero no comando do ataque.

Antes que a bola rolasse, os olhos se magnetizavam por aquilo que acontecia nas arquibancadas. A Bombonera se coloriu de maneira diferente, em celeste e branco. E a recepção aos times foi calorosa, para impulsionar a Argentina. Desde o apito inicial, a Albiceleste marcou o seu ritmo. Era um time ofensivo, que controlava a posse de bola e tentava espremer os adversários no campo de ataque. O problema é que o Peru se protegia muito bem, especialmente por sua abnegada linha de meio-campo.

Os argentinos tinham dificuldades enormes para criar, encontrando um pouco mais de espaço apenas nas pontas. O primeiro lance de perigo só veio aos 13 minutos, em finalização de Messi após cobrança de escanteio, que os incas conseguiram desviar no meio do caminho. Quando criavam, dependiam mais de uma jogada individual ou de um erro da marcação adversária. Messi até tentava, mas via Renato Tapia muito bem em sua cola. Já aos 32, Papu Gómez arrancou pela esquerda e forçou a primeira boa defesa do goleiro Pedro Gallese.

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A Argentina tinha o domínio do jogo. Mas não dava para dizer necessariamente que possuíam o controle. A seleção peruana parecia confortável em se defender e, por vezes, ameaçava nos contragolpes. Os anfitriões não economizavam na força para matá-los. A melhor oportunidade veio aos 33, em bola de Trauco que Farfán se meteu entre os zagueiros para escorar. Errou o alvo por pouco. A resposta argentina viria na sequência, em jogadaça individual de Messi, que chutou prensado e viu o arremate tirar tinta da trave. A Albiceleste até cresceu nos minutos anteriores ao intervalo, especialmente pela insistência nos cruzamentos. Benedetto, que brigava bastante na área, chegou a cabecear com perigo, mas para fora.

Apagado, Di María saiu logo no intervalo, dando lugar a Emiliano Rigoni. E a Argentina parecia disposta a resolver o jogo o quanto antes. O que só aumentava o drama. Logo no primeiro lance, Messi deixou Benedetto na cara do gol, mas o centroavante bateu em cima de Gallese. Na sobra, Messi se infiltrou na zaga e chutou com o gol escancarado, acertando caprichosamente a trave. O bombardeio continuava e Gallese começava a se consagrar. Realizou uma defesaça em bomba de fora da área de Biglia, antes de barrar Papu Gómez no mano a mano. A Albiceleste encontrava mais espaços, mas falhava demais na hora de concluir as jogadas. Tanto que, aos 15, Rigoni isolou na pequena área, após passe de Messi.

Sampaoli tinha usado a sua segunda substituição pouco antes. Tirou Banega para a entrada de Fernando Gago, que inflamou a torcida, mas se provou uma escolha totalmente errada. Dois minutos depois, o veterano caiu no gramado aos prantos, após lesionar o joelho – já não vinha 100% fisicamente. Ainda tentou voltar ao campo, sem condições, logo depois suplantado por Enzo Pérez. Quando poderia impulsionar o ataque, Sampaoli preferiu manter a sua formação tática. Deixou no banco outras tantas opções que poderiam chamar a responsabilidade, como Paulo Dybala e Mauro Icardi. O sofrimento se arrastava, e era albiceleste. Enquanto isso, a Bombonera não era o mesmo estádio do Boca, apenas com picos mais inflamados, mas com a torcida mais apagada que já se viu em outros estádios.

Aos 23, Messi criaria mais uma oportunidade. Benedetto, mais uma vez, pararia em Gallese. Estava claro que o camisa 10 precisaria resolver por si, mas a esta altura a marcação já tinha dobrado. E, em um momento no qual os peruanos davam mais espaços, os argentinos pareciam não ter mais pernas para aguentar a exigência do jogo. Ricardo Gareca moldava os Incas para tentar arrancar um gol de contra-ataque no final. A Argentina se limitava aos chutes de longe, como em pancada de Javier Mascherano que seguiu para fora, ou nas bolas paradas. O camisa 14, aliás, fazia outra partida de pura raça – como costuma ser na seleção. Mesmo mancando, comandava a defesa e passou a se responsabilizar pela saída de bola. Seu esforço, porém, era em vão.

O Peru assustava constantemente nos contra-ataques. A Argentina tinha que se desdobrar para conter os visitantes. E esperava uma bola vadia que entrasse. Um lampejo de Messi em cobrança de falta? Na barreira. Um Palermo que aparecesse milagrosamente na área para escorar o chuveirinho? Só em sonho. Pior, os argentinos precisaram rezar muito nos acréscimos. Guerrero cobraria falta na entrada da área, em posição parecida àquela que mandou no travessão durante a final da Copa do Brasil. Mirou o mesmo ângulo, bateu com menos força. Deu tempo para Sergio Romero se transformar no herói derradeiro, saltando para espalmar o tiro que poderia ser fatal. Apito final, e as câmeras logo filmariam Messi, atônito no centro do campo, com as mãos na cintura. O camisa 10 foi um dos melhores da Albiceleste; ainda assim, insuficiente, sem arriscar o quanto precisava.

Ao final, a situação da Argentina é “menos pior” do que poderia ser. Com 25 pontos, o time deixou a zona de classificação à Copa do Mundo, ocupando a sexta colocação, agora um ponto atrás do Chile. Mas viu a Colômbia estacionar também com 26, ao tomar a virada do Paraguai. A Albiceleste ainda depende apenas de si, mas decidirá sua vida visitando o Equador em Quito. Precisará vencer e poderá ultrapassar ou Peru (com os mesmos 25 gols, mas vantagem no saldo de gols) ou Colômbia, que fazem a grande decisão da rodada em Lima. O problema será ver algo diferente desta seleção argentina, que, não bastasse as atuações abaixo de seu potencial, vê a sorte virar as costas. Há mais 90 minutos de drama para se jogar, e necessitando de uma luz que nem a Bombonera conseguiu providenciar.

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