Pacientes denunciam erros, chamam médico de ‘açougueiro’ e pedem providências

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Keka Werneck/GD


Arquivo Pessoal

Luciana afirma que foi operada sem o consentimento dela e da família

Médico que tem registro profissional de Mato Grosso e também Goiás e que atua nos 2 estados está sendo denunciado por mais de 10 pacientes de Tapurah (433 a Médio- Norte de Cuiabá) por erros graves em cirurgias. O acusado é Julio Cesar da Silva, diretor do Hospital Municipal de Tapurah.

Uma das pacientes é Luciana dos Santos Barbosa Lima, 36. Ela foi “aberta” pelo médico, sem o consentimento dela ou da família, para tirar uma dúvida, que poderia ser sanada via ultrassom.

Revoltada, conta que no ano passado fez uma cirurgia de retirada de um mioma no útero com o médico Julio Cesar. Ficou internada após a intervenção, no Hospital Municipal de Tapurah, onde o médico denunciado atua e sangrou muito no pós-operatório.

Ainda perdendo sangue e uma espécie de “água”, resolveu ir para casa e por 2 meses essa situação perdurou amenizando um pouco. Mais de 6 meses depois, resolveu voltar ao médico, porque ainda sentia desconforto.

No dia 13 deste mês, uma terça-feira, no consultório do médico, questionou o profissional sobre o motivo disso. O médico alegou que havia ponto infeccionado e que poderia resolver isso facilmente, sem corte. “Respondi que tinha um compromisso no centro da cidade e que voltaria e voltei”, lembra a paciente.

No hospital, equipe de enfermagem começou os procedimentos parecidos aos realizados na primeira cirurgia. “Questionei que não ia operar, que o médico disse que não haveria corte e que não precisa de exame de sangue pré-operatório, porque não seria cirurgia, mas me responderam que todos os pacientes que entravam passavam por isso e pensei: ok então”, relata.

Depois disso, ela tomou um comprimido que a deixou “grogue” e foi encaminhada ao centro cirúrgico. Quando chegou lá, começaram a passar gel na barriga dela, sinalizando que seria feito um corte ali.


Foto de outra paciente que pediu para não ter o nome divulgado

A paciente voltou a questionar, desta vez ao médico, que já estava a postos. “O senhor se lembra que falou comigo que não precisaria cortar? O senhor se lembra que eu sou cardíaca? Doutor, eu não fiz jejum. Outra coisa, anestesia comum não pega em mim”, disse. O médico respondeu para ela se acalmar e determinou que aplicassem algo na veia. “Olhei para o teto e já não conseguia falar. Apaguei”, relembra.
Cerca de 4h depois, Luciana acordou já no quarto, passou a mão na barriga e sentiu um curativo do tamanho idêntico da primeira cirurgia. 

“Entrei em desespero. Chorei, chorei e chorei. Não tinha ninguém ali comigo, quando acordei, para me explicar a situação. Ele me operou sem a minha permissão, sem a minha família saber, são muitos erros em uma só pessoa”, lamenta. “Liguei para o meu marido e falei para ele correr para o hospital que eu estava internada e tinha sido operada. Ele correu para lá, indo direto à sala do médico, que alegou que me abriu porque tinha uma dúvida e fechou porque não tinha nada de errado. Por que ele não pediu um ultrassom?” – questiona.

Quando ela soube disso, retirou o soro, vestiu a roupa e também se dirigiu à sala do médico. Questionou a conduta dele e afirma ter ouvido ele dizer que estava com uma dúvida. “Quem tem dúvida aqui sou eu que sou paciente, o senhor é médico, devia ter me explicado a situação, pedido exames”, reagiu.

Saindo do hospital, registrou Boletim de Ocorrência, na Delegacia Municipal de Tapurah, e levou o caso ao Ministério Público Estadual. Ela ainda não foi chamada para prestar depoimento.

Moradores estão indignados com diversas histórias de supostos erros, reclamam que não são cobaias humanas e pedem providências ao secretário Municipal de Saúde de Tapurah, Marcos Felipe.

O Hospital não tem UTI e mesmo assim está fazendo cirurgias. Esta é outra denúncia dos moradores.

Arquivo pessoal

Há pacientes com medo de se expor como é o caso de uma senhora de 52 anos. Ela teve uma apendicite no dia 26 de setembro de 2017, sentiu forte dor e foi para o hospital. No dia seguinte, entrou para o centro cirúrgico.

“Ele retaliou meu corpo com 4 ou 5 cortes, disse que eu estava podre por dentro, furou meu intestino várias vezes, colocou ele para fora e eu fiquei com aquelas bolsas. Tive alta mesmo assim, mas no dia seguinte voltei para o hospital ruim, queimando de febre dos cortes vazava fezes”, detalha.

Às pressas, ela foi encaminhada para o Hospital Regional de Sorriso, com um quadro de saúde considerado grave. Passou por tomografia e deu entrada no centro cirúrgico. O cirurgião colocou o intestino dela para dentro, mas teve que mantê-lo fora do lugar. “Minhas tripas estavam mais curtas”, conta a paciente.

Segundo ela, teve que passar pela 3ª cirurgia, desta vez para que o intestino fosse colocado no lugar.
Foram 2 meses de internação e riscos e ela agora precisa do médico para pegar atestado. Isso porque está tentando, ainda sem conseguir, receber pelo INSS.

A mulher, que mora sozinha, é faxineira de um mercado local e com esse dinheiro que sobrevive. Devido às condições de saúde, não está podendo trabalhar. Há informações de uma paciente que também foi operada e ficou com uma toalha dentro da barriga. 

Outro lado

Gazeta Digital tentou falar com o médico denunciado, ligou para o Hospital de Tapurah, deixou 2 recados com secretárias e deixou o telefone de contato. Porém, até a publicação desta matéria não houve retorno.

O secretário municipal de Saúde, Marcos Felipe, informou que tem conhecimento das insatisfações da população e já formou uma comissão para avaliar caso o caso. De acordo com ele, já foi solicitado o prontuário de todos os pacientes do médico Júlio Cesar e outras documentações para anexá-las a um dossiê que será encaminhado ao Conselho Reional de Medicina (CRM).

“Falei com o médico e ele disse que responderá a todas as acusações, mesmo que sejam criminais, e chegou a colocar o cargo à disposição”, informa o secretário.

A reportagem entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina (CRM) de Goiás para saber se o profissional responde a processos por erro médico no conselho da classe daquele estado, mas a informação foi a de que processos dessa natureza tramitam em sigilo. Dessa forma, não foi possível confirmar se o profissional é processado por lá. No CRM de Goiás, nunca foi punido publicamente por falhas.

Já o CRM de Mato Grosso também informa que os processos daqui correm em sigilo e que o médico Julio Cesar da Silva não foi alvo de qualquer punição pública.

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