Consumo de cannabis pode trazer riscos para pessoas com problemas de coração

Data:

Compartilhar:

Só nos Estados Unidos, mais de 2 milhões de americanos com problemas cardíacos relatam usar cannabis, mas ainda há muitas perguntas sobre os efeitos da droga, inclusive no coração, de acordo com estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology. Vale lembrar que em alguns estados americanos o uso recreativo da cannabis é legal, diferentemente do Brasil.

O que se descobriu, no entanto, é que a planta pode interagir negativamente com medicamentos cardíacos comuns, incluindo estatinas e anticoagulantes, o que, potencialmente, colocaria os pacientes em risco.


O uso de maconha combinado com a estatina, por exemplo, pode mudar a maneira como esses medicamentos funcionam no corpo humano, explica o principal autor do estudo, Dr. Muthiah Vaduganathan, que é cardiologista do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, nos Estados Unidos.

Isso ocorre porque as mesmas enzimas hepáticas, que decompõem estatinas ou anticoagulantes, também quebram os compostos da maconha. O uso simultâneo desses medicamentos com a maconha pode alterar a eficácia ou mesmo a potência do tratamento.

Em determinadas circunstâncias, a cannabis pode aumentar os níveis de anticoagulantes do sangue no corpo, o que aumenta as chances de um sangramento excessivo, de acordo com o estudo. Foi descoberto que as pessoas que usam derivados da maconha enquanto tomam os anticoagulantes podem ser obrigadas a reduzir sua dose em até 30% da quantidade originalmente prescrita.

Já com os medicamentos com estatina, o uso combinado com cannabis pode aumentar a potência de seus efeitos, o que levaria, em casos extremos, a quedas bruscas na pressão sanguínea do paciente.

Consumo de cannabis pode trazer risco para pacientes com problemas cardiovasculares (Foto: Reprodução/ Revista NutriOnline)Consumo de cannabis pode trazer risco para pacientes com problemas cardiovasculares (Foto: Reprodução/ Revista NutriOnline)

Medidas de segurança

Se pessoas que tomam medicamentos para o controle do coração utilizarem maconha, é importante que informem ao seu médico para que as doses possam ser ajustadas, caso necessário, evitando transtornos futuros. “O primeiro passo é ter uma discussão aberta com os médicos, porque [esse consumo combinado] influencia algumas partes de seus cuidados”, explica Vaduganathan.

Com base nas evidências disponíveis, os pacientes de maior risco — como pessoas que tiveram recentemente um ataque cardíaco ou foram hospitalizadas em decorrência de um problema cardíaco — devem ser aconselhadas a não usar maconha ou limitarem seu uso, defende o cardiologista.

Além disso, pode haver risco até mesmo para os usuários que não tomam medicamentos para o coração. Nesses casos, é aconselhado que prestem atenção se o coração está batendo mais rápido. “Sempre preste muita atenção da maneira como a maconha afeta os batimentos cardíacos”, salienta o pesquisador.

Para Sergio Fazio, professor de medicina cardiovascular da Oregon Health & Science University, “palpitações — quando o coração dispara, bate ou pula uma batida — são um efeito colateral comum da maconha e podem ser perigosas para alguém com uma condição existente”. Não envolvido na pesquisa, Fazio também alerta que “se, às vezes, você sente seu coração batendo forte, esses são sinais de que você não deve ingerir maconha.”

Já Carl Lavie, diretor da Clínica Ochsner, em Nova Orleans, explica que o THC, o principal ingrediente psicoativo da cannabis, pode formar coágulos no sangue, aumentando o risco de uma pessoa sofrer um derrame e até mesmo um ataque cardíaco.

É possível que a maconha nem sempre seja ruim para o coração. O uso de maconha medicinal conforme prescrito pode reduzir os níveis de estresse, por exemplo, segundo os pesquisadores.

“Sempre que alguém diz que conseguiu dormir oito horas em paz porque usava um pouco de maconha, sua saúde cardiovascular provavelmente será melhor com o uso de maconha”, explica Fazio. “Quando você passa para o uso puramente recreativo, é aí que os riscos associados a problemas cardíacos potencialmente superam os benefícios”, continua o especialista.


Diferentes formas de uso

A forma como os usuários consomem a cannabis também desempenha um papel importante na escala de risco para pessoas com problemas cardíacos. Embora a droga afete todo o sistema cardiovascular, independentemente de como é ingerida, Fazio aponta que, na forma comestível, a ingestão é mais segura.

Isso porque o fumo apresenta muitos dos mesmos riscos que a inalação de tabaco, além dos já associados ao consumo. Já quando consumida como essências em cigarros eletrônicos, como demonstrado pelo surto norte-americano, apresenta uma série de agravantes mais complexos. A vaporização direta da erva é menos nociva que o uso de essências, por redução de danos advinda da queima e dos compostos químicos associados.

Ainda assim, a forma comestível traz riscos. Nesses casos, estão ligados à dosagem, já que é muito fácil ingerir uma dose maior de cannabis, quando consumida misturada a outros alimento. “O problema é saber a pureza e a dose, e isso é extremamente variável entre os diferentes produtos”, comenta Lavie.

“Uma dose baixa de THC puro é mais segura do que uma dose alta de THC que possui muitos contaminantes ruins”, esclarece o diretor da Clínica Ochsner. “Não sei se as pessoas estão sempre conscientes do que exatamente estão recebendo”, conclui Lavie sobre as inseguranças quanto a origem e armazenamento desses produtos.

Fonte: NBC News

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Notícias relacionadas