‘Ele estava triste, contou que tinha apanhado e não fazia ideia da repercussão’, diz defesa

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Apesar de ter família com residência fixa, Anderson Luis da Silva Zahn, 25, vive nas ruas de Sinop (500 km ao Norte de Cuiabá), dormindo no pátio de um posto de combustível, pedindo dinheiro para comer e sustentar o vício em drogas. Na quinta-feira (9), seu rosto, que muitas vezes passa despercebido, foi visto por milhares de pessoas mundo à fora, em um vídeo em que aparece sendo agredido por um empresário, enquanto outro filma, rindo da situação.


Com a grande repercussão do vídeo, estudantes do curso de Direito de Sinop se mobilizaram e buscaram a ajuda de um advogado da cidade, especializado em Direito Criminal, que se sensibilizou com a situação. “Quando eu ví o vídeo, fiquei mal, me deu cólicas. Fiz o que qualquer ser humano faria”, disse o advogado em entrevista ao .


Ele saiu às ruas da cidade e encontrou Anderson, que estava, segundo ele, um tanto quanto triste no meio de outras pessoas em situação de rua. Ele não sabia o que estava acontecendo, já que não tem celular, rede social ou acesso aos meios de comunicação.


“Conversei com ele, contei o que estava acontecendo, algumas das pessoas que estavam lá pediram para ver o vídeo, mas eu não quis mostrar. Ele estava triste, contou que tinha apanhado e não fazia ideia da repercussão”, lembra.


Após o primeiro contato, o advogado, que pediu para não ser identificado, levou Anderson até a delegacia onde o caso foi registrado. “Você vê nas imagens que, após levar o tapa, ele fica sem nenhuma reação. Ele fica parado, olhando, porque não tem uma má índole, não é uma pessoa violenta, sabe? É uma pessoa que tem uma vida muito sofrida”, explica.


Na tarde de sexta-feira (10), Anderson foi levado para uma clínica de reabilitação. A internação foi oferecida pelo ex-jogador de futebol Juninho Pernambucano, que se sensibilizou com o caso. Ele está fora do país, mas entrou em contato com o advogado, se mostrando disponível para ajudar no que fosse preciso.


‘Cidadão de bem’
Em diligências, a polícia conseguiu identificar Adonias Correia de Santana, 43, empresário madeireiro da cidade de Tabaporã, como o autor da agressão. Já o empresário de Sinop Hildebrando José Pais dos Santos, dirigia a caminhonete Hilux e filmava o episódio.


Adonias é conhecido na região não só pela atuação no ramo, mas também pelo envolvimento com a política. Filiado ao Partido Social Liberal (PSL), sendo inclusive, tesoureiro do partido na cidade. No entanto, o presidente da sigla em Mato Grosso, Aécio Rodrigues, já informou que vai expulsar o ‘cidadão de bem’.


Além disso, a imprensa identificou contra ele ao menos 22 processos por diversos motivos, como crimes eleitorais, infrações trabalhistas, buscas e apreensão e outras ações penais.


Apesar de terem sido identificados, os dois ainda não foram encontrados. Como não há flagrante, possivelmente fiquem presos, mas vão responder pelo crime de lesão corporal e danos morais.


Polícia Civil, por meio da assessoria de imprensa, informou na última sexta-feira (10) que diligências serão realizadas nos próximos dias para encontrar e responsabilizar os autores do crime.


“A Polícia Judiciária Civil de Sinop não coaduna com qualquer ofensa à dignidade da pessoa humana e preza, antes de tudo, pela elucidação de todos os delitos que ofendem a ordem pública”, diz trecho da nota.

 

‘Vai trabalhar, vagabundo!’
Conforme o boletim de ocorrência que o teve acesso, a vítima, que tem 25 anos, estava com um cartaz com a frase “estou com fome, você pode me ajudar”, no cruzamento de duas avenidas da cidade no momento em que foi abordado pelo pelo suspeito, que estava no banco do carona de uma caminhonete Hilux.


No vídeo, o homem aparece dando R$ 20 ao rapaz e em seguida, pergunta se a situação está dificil por conta da paralisação na cidade. Ele pega o dinheiro e relata como tem sido complicado.


A vítima acredita que se tratava de uma boa ação, percebe que estava sendo gravado e o homem oferece mais dinheiro. Quando ele se aproxima do carro, recebe um tapa na cara. “Vai trabalhar, rapaz”, diz Adonias.

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