Pesquisa coordenada pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FM-USP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp), apontou que, quando a cidade de Manaus (AM)
vivenciou o pico da epidemia de covid-19, no mês de maio, 45,9% da população local
já havia contraído o novo coronavírus em algum momento. Após um mês, o
percentual de pessoas que teriam contraído o vírus atingiu 64,8% e teria
se estabilizado em 66,1% nos dois meses seguintes.
Nos primeiros meses da pandemia, em março e abril, o
percentual de infectados era de 0,7% e 5%, respectivamente. Para os autores do
estudo, embora intervenções não farmacêuticas e uma mudança no comportamento da
população possam ter ajudado a limitar a transmissão da doença, a alta taxa de
infecção nos últimos meses sugere que a imunidade de rebanho é um fator que
contribuiu para a queda do número de novos casos e de mortes em Manaus.
“A mortalidade elevada e a queda rápida e sustentada de
casos sugerem que a imunidade populacional teve um papel significativo na
determinação do tamanho da epidemia em Manaus”, diz trecho do artigo, ainda sem
revisão por pares.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que os resultados
foram obtidos a partir da análise de amostras de um banco de doadores de
sangue, o que requer cuidados para tornar tal amostragem representativa. Isso
porque, em geral, os doadores são adultos saudáveis e podem não
representar a população geral da cidade. Além disso, não há consenso sobre a
proporção de uma população que deve ser infectada com o novo coronavírus antes
que a imunidade de rebanho seja alcançada, apontou o estudo.
Metodologia
Os resultados apresentados no artigo foram obtidos em uma
combinação de modelagem matemática e análises sorológicas de amostras de sangue
doado à Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas
(Hemoam) entre os meses de fevereiro e agosto. Foram selecionadas amostras de
mil doadores em cada mês e analisadas a presença de anticorpos contra a
covid-19.
Já na cidade de São Paulo, o estudo apontou que a
soroprevalência – presença de anticorpos contra o novo coronavírus – estava em
22,4% no mês de agosto. Em março, os infectados eram 0,8%, em abril 3,1%, em
maio 6,9%, em junho 16,1% e em julho 17,2%. Outro alerta feito pelos
pesquisadores é que, se a curva vista em Manaus ocorresse em São Paulo, a
capital paulista poderia ter uma mortalidade três vezes maior do que tem
hoje.
No município de São Paulo, os pesquisadores analisaram
amostras de sangue doado na Fundação Pró-Sangue entre fevereiro e agosto.
Também foram selecionadas mil amostras por mês e adotado um critério de cotas
geográficas para dar representatividade a moradores de todas as regiões da
cidade.